sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Prólogo
Numa aldeia, perto do lugar onde o Norte e o Sul se encontram, alheada de um mundo ao contrário com Leis que o castram de sentido de felicidade a cada dia que passa, uma criança, com olhos de um azul infinito a lembrar o ponto onde o mar e o céu se encontram, toca a água do tanque que se encontra à sua frente. Está gelada. Não importa, aquela sensação até é agradável: faz-lhe lembrar o tempo em que era também uma criança num corpo de criança. Sim, esta é uma criança grande, a quem a vida se encarregou de traçar marcas no rosto, mas que, incrivelmente, preserva um sorriso de criança que de uma maneira tão ternurenta transforma o "dia normal" de cada um num dia que vale a pena ser vivido...

É um dia normal, numa fase anormal da sua vida. Esta criança grande tem vindo a experimentar o mundo que luta para a tornar adulta, no pior sentido da palavra. Adulta, sem acreditar em magia, sem acreditar na beleza dos dias e dos rostos que os preenchem, sem acreditar no melhor de si...

Subitamente, ao passar por aquele tanque, na casa daquele familiar, pára. O tanque nunca fora especial para si. Na verdade, nem sequer gostava muito dele, porque a água que ali se encontrava estava sempre fria. Passou por ele vezes sem conta. Tantas, que se tinha habituado a nem se dar conta dele. Neste dia, no entanto, parou. Nesta sua fase da vida em que andava difícil lembrar-se da sensação de ser criança, lembrou-se da última vez em que realmente ali tinha estado, parada em frente a ele. Era criança, vinha agora à mente com uma certeza inigualável. Sabia-o, porque a única preocupação tinha sido exactamente o facto de a água estar gelada. Nada mais interessava.

Deixou-se estar. Pela água, através dos dedos entrava uma sensação de felicidade que envolvia o coração num calor que o aconchegava. Parecia tão incoerente, pensava a criança grande, mas realmente, lembrava-se agora das palavras de um amigo, "quando se está ao nível do coração, tudo faz um sentido que as palavras nunca foram capazes de expressar"... A água gelada parecia refrescar, agora que se sentia assim tão bem consigo mesmo, e pela primeira vez com tanta vontade, juntou as mãos a formar uma concha debaixo de água, e num movimento brusco mas infinitamente libertador, molha a cara com a única preocupação de sentir aquela frescura escorrer pela face...
 
por David a 06:40 | Permalink |


1 Comments:


  • At 13 de dezembro de 2008 às 05:50, Blogger Anawîm

    Olá, David!...

    Agradeço-te muito esta tua partilha!...


    Já aconcheguei umas almofadas ali no canto... já me sentei à vontade... hmmm vou passar muitas vezes por aqui para me deixar encantar...

    Um abraço para ti!

     

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