domingo, 14 de dezembro de 2008
Capítulo 2 [1ª parte]
Era sexta-feira à tarde, e o Duarte estava a espera da Catarina nas escadas do salão paroquial, em frente ao parque predilecto dela para estacionar o carro. Era uma tarde com nuvens, mas o sol esforçava-se por mostrar à terra a sua beleza. Chegou.
- Olá! – Cumprimentou ela com o seu jeito de sempre – Vamos?
- Oi… claro que sim – respondeu o Duarte – hoje lanchamos no Varela? Fica a caminho, queria ainda passar na Beta para comprar a prenda para o meu pai…
- A Beta é aquela miúda muito tua amiga onde passas a vida? – Inquiriu, já conhecendo o hábito do Duarte por passar as tardes livres lá pela loja.
- Sim, sim, é ela! – Disse sorrindo de orelha a orelha, pois já sabia que não escapava nada que a Catarina já não soubesse.

Estavam entretidos na conversa do costume, nas bisbilhotices que a Catarina gostava de contar, e ainda nem iam a meio do caminho, quando vêem o Gonçalo.
- Catarina, acho que não vais gostar muito de saber, mas o teu amigo “parvalhão”…
- Quem? O número um ou número dois? – interrompeu logo a Catarina, já alarmada.
- O um – responde numa gargalhada o amigo, já olhando o chão para não se desmanchar a rir quando o Gonçalo o estivesse a ver.
O Gonçalo, “parvalhão número um” para eles, era um ex-namorado da Catarina que muito a tinha feito sofrer. Não obstante, a relação tinha altos e baixos, como que se não se pudessem suportar, nem viver sem pelo menos a amizade um do outro. Nesta altura estariam bem, falavam agora sobre banalidades que fizeram o Duarte tomar atenção a uma outra coisa que se passava do outro lado da estrada. O Duarte era uma pessoa sociável, de quem era muito fácil de gostar, mas ali estava alguém que tinha um dia (ou mais, talvez) quebrado a sua confiança e, apesar de não se achar uma pessoa que guardasse rancor, ali estava uma das situações em que levaria a Catarina a dizer-lhe o contrário, ainda que fosse para com muito poucas pessoas, já que se dava bem com quase toda a gente. O Fernando era quem estava do outro lado da estrada.

Pelo passado de ambos, o Duarte tinha ficado com uma espécie de alergia ao Fernando, pela sua maneira de ser, pelo que um dia já tão confuso e enevoado na sua memória tinha acontecido. Na verdade, já não sabia bem o que tinha contra ele, mas sentir aquela raiva parecia dar-lhe prazer, num sentimento de controlo e poder sobre as coisas e pessoas, porque ele tinha a certeza de ter razão quanto a tudo aquilo que movia tal raiva.

Estava já na espiral de pensamentos do costume, a convencer-se a si próprio de tudo o que a vida se “encarrega de ensinar” (que normalmente coincide com tudo o que de pior o mundo tem). Estava já de coração exaltado, preso por um sentimento que não mudaria nada, nem para nada serviria, a não ser para o atormentar ainda mais a si próprio. Tinha a certeza de ter razão…mas isso nada importava. E o Duarte não queria ver.

E eis que aparece, então, quem se deu ao trabalho de mudar a sua vida.
 
por David a 04:55 | Permalink |


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